* Os Espíritos não são iguais nem em poder, nem em
conhecimento, nem em sabedoria. Como não passam de almas humanas desembaraçadas
de seu invólucro corporal, ainda apresentam uma variedade maior que a que
encontramos entre os homens na Terra, por isso que vêm de todos os mundos, e
porque entre os mundos a Terra nem é o mais atrasado, nem o mais adiantado. Há,
pois, Espíritos muito superiores, como os há muito inferiores; muito bons e
muito maus, muito sábios e muito ignorantes, há os levianos, malévolos, mentirosos,
astutos, hipócritas, facetos, espirituosos, trocistas, etc.
* Estamos incessantemente cercados por uma nuvem
de Espíritos que, nem por serem invisíveis aos nossos olhos materiais, deixam
de estar no espaço, em redor de nós, ao nosso lado, espiando os nossos atos,
lendo os nossos pensamentos, uns para nos fazer bem, outros para nos fazer mal,
segundo os Espíritos bons ou maus.
* Pela inferioridade física e moral de nosso globo
na hierarquia dos mundos, os Espíritos inferiores aqui são mais numerosos que
os superiores.
* Entre os Espíritos que nos cercam, há os que se
ligam a nós, que agem mais particularmente sobre o nosso pensamento,
aconselhando-nos, e cujo impulso seguimos sem nos apercebermos; felizes se
escutarmos a voz dos bons.
* Liga-se os Espíritos inferiores àqueles que os
ouvem, junto aos quais têm acesso e aos quais se agarram. Se conseguirem
estabelecer domínio sobre alguém, identificam-se com o seu próprio Espírito,
fascinam-no, obsediam-no, subjugam-no e o conduzem como se fosse uma criança.
* A obsessão jamais se dá senão por Espíritos
inferiores. Os bons Espíritos não produzem nenhum constrangimento: aconselham,
combatem a influência dos maus, afastam-se, desde que não sejam ouvidos.
* O grau de constrangimento e a natureza dos
efeitos que produz marcam a diferença entre a obsessão, a subjugação e a
fascinação.
A obsessão é a ação quase que permanente de um
Espírito estranho, que leva a pessoa a ser solicitada por uma necessidade incessante
de agir desta ou daquela maneira e de fazer isto ou aquilo.
A subjugação é uma ligação moral que paralisa a
vontade de quem a sofre, impelindo a pessoa às mais desarrazoadas ações e, por
vezes, às mais contrárias ao seu próprio interesse.
A fascinação é uma espécie de ilusão produzida,
ora pela ação direta de um Espírito estranho, ora por seus raciocínios
capciosos; e esta ilusão produz um logro sobre as coisas morais, falseia o
julgamento e leva a tomar-se o mal pelo bem.
* Por sua vontade pode sempre o homem sacudir o
jugo dos Espíritos imperfeitos, porque em virtude de seu livre-arbítrio, há
escolha entre o bem e o mal. Se o constrangimento chegou a ponto de paralisar a
vontade e se a fascinação é tão grande que oblitera a razão, então a vontade de
uma terceira pessoa pode substituí-la.
Antigamente dava-se o nome de possessão ao império
exercido pelos maus Espíritos, quando sua influência ia até à aberração das
faculdades. Mas a ignorância e os preconceitos, muitas vezes, tomaram como
possessão aquilo que não passava de um estado patológico. Para nós, a possessão
seria sinônimo de subjugação. Não adotamos este termo por dois motivos:
primeiro porque implica a crença em seres criados para o mal e a ele votados,
perpetuamente, quando apenas existem seres mais ou menos imperfeitos e todos
podem melhorar; segundo, porque ele implica igualmente a idéia de tomada de
posse do corpo pelo Espírito estranho, uma espécie de coabitação, ao passo que
existe apenas uma ligação. O vocábulo subjugação dá uma idéia perfeita. Assim,
para nós, não há possessos, no sentido vulgar da palavra; há simplesmente
obsedados, subjugados e fascinados.
Por idêntico motivo não usamos o vocábulo demônio
na acepção de Espírito imperfeito, de vez que freqüentemente esses Espíritos
não valem mais que os chamados demônios: é apenas por causa da especialidade e
da perpetuidade que estão ligadas a este vocábulo. Assim, quando dizemos que
não há demônios, não queremos dizer que apenas existam bons Espíritos; longe
disto: sabemos muito bem que os há maus e muito maus, que nos solicitam para o
mal, armam-nos ciladas e isto nada tem de admirável, porque eles foram homens.
Queremos dizer que não formam uma classe à parte na ordem da Criação, e que
Deus deixa a todas as criaturas o poder de melhorar-se.
Allan Kardec
- R. E. 1858.
Nenhum comentário:
Postar um comentário